Árvore

Chega até a ser engraçado pra mim mesma. Nunca em toda minha vida pensei que um dia eu escreveria alguma coisa pra algo constituído de raíz, caule, galhos, flores e frutos. É, queridos amigos. Hoje preciso expressar os sinceros sentimentos que tenho por uma árvore. Não se trata de uma árvore qualquer, não fica em um lugar assim... digamos que extremamente especial. Nunca me deitei debaixo da sua sombra, nunca subi nela pra roubar uma florzinha ou uma frutinha sequer. Nunca na vida toquei nessa árvore. Mas todos os dias de manhã, quando acordo, é ela que me diz bom dia. Localizada no quintal da casa atrás do meu prédio, a bendita já testemunhou muita coisa. Suas folhas são bem verdinhas, daquelas pequenininhas que crescem grudadas num fiozinho. Se eu tivesse prestado mais atenção nas aulas de biologia eu poderia descrevê-la com mais detalhes. Se eu não me engano, essa árvore é um ipê roxo. Um dos milhares espalhados por essa cidade. Logicamente na primavera ela fica cheia de florzinhas lilás. Minha cor preferida. Depois vem o verão e ela fica só verdinha. Ainda ontem eu vi um raminho de flores lá no topo dela. Mas hj já tinham ido embora. Cansaram do sol forte. No outono ela vai ficando peladinha. No inverno fica triste, sem cor. Coitadinha da árvore. Já passou por cada coisa comigo. Já me viu acordar pulando de alegria, chorando profundamente. Já me viu sozinha, acompanhada de amigos. Cheia de sonhos, sem nenhum deles. Vale lembrar que estão comigo outra vez. A árvore já me deu bichinhos pra dentro de casa, daqueles que rodam, rodam rodam em volta da lâmpada e depois morrem. Suicidas que sujam meu chão. Dentre esses bichinhos também tá o morcego entrão. Essa árvore já me ouviu lamentar, lamentar... Ainda bem que árvores não falam. O triste é que daqui alguns dias vou ter que dizer adeus a essa querida árvore, que talvez nem saiba o quanto me faz bem. Querida árvore da minha janela, nunca me esquecerei de vc.